domingo, 12 de abril de 2009

Noticia do DN

Ribeira das Jardas devolvida aos moradores do Cacém
por KÁTIA CATULO
Sempre que há um "bocadinho de sol", Rafael Sardinha sai da escola, passa por casa para almoçar, pega na bicicleta e segue directo para o Parque da Ribeira das Jardas, no Cacém (Sintra). O programa que o adolescente tem para as suas tardes não é original. Mal chega ao "jardim", descobre que muitos outros tiveram a mesma ideia. "Depois da hora do almoço, isto está cheio de 'cotas', de malta a jogar à bola ou de pessoas que trazem os cães para passear", conta o miúdo de 14 anos que vive em Agualva.Os colegas de Rafael também aparecem no parque do Cacém todos os dias. Durante a semana, nunca combinam hora e ponto de encontro, porque já sabem onde estão os amigos, que antes se reuniam à entrada do Centro Comercial das Mercês ou no Shopping de Fitares, em Rio de Mouro.Até há bem pouco tempo, Alfredo Nóbrega, 78 anos, tinha de ir mais longe para conseguir "ler em paz" os diários desportivos: "Apanhava o comboio até Lisboa e depois ainda tinha de viajar de metro até à estação do Rato." Quase uma hora dentro dos transportes públicos para chegar à capital e ter direito a um lugar ao sol no Jardim da Estrela.Susete Fragoso transformou o novo espaço verde num restaurante ao ar livre. A funcionária do Centro Dietético do Cacém desce todos os dias a Avenida dos Bons Amigos e acomoda-se junto à ribeira para comer a refeição cozinhada em casa: "Não sou a única a fazer isto."A revolução nos hábitos de quem mora e trabalha nas duas freguesias de Sintra aconteceu da noite para o dia. O parque das Jardas nem sequer foi oficialmente inaugurado - mal as obras acabaram, a população tomou conta do espaço. E este é um dos principais factores que tornou a reabilitação desta zona num "caso de sucesso", explica José Veludo, do ateliê NPK, empresa responsável pelo projecto do Parque Linear do Cacém.Há cinco anos, quando a equipa de arquitectos paisagistas começou a trabalhar no projecto, a ribeira nem sequer estava ao alcance dos moradores. Uma muralha de habitações tapava o curso de água, que era um "autêntico esgoto a céu aberto", recorda José Veludo. Foi necessário demolir as casa construídas em leito de cheia para dar lugar ao único parque urbano que, desde Dezembro de 2007, serve os 70 mil habitantes do Cacém e de Agualva. A obra, uma das prioridades do programa Polis no Cacém, não é só um lugar de lazer. O projecto da NPK conjugou ainda estratégias para controlar as cheias e para repor a biodiversidade da flora. Não significa isto que as inundações sejam parte do passado, pois essa é uma missão impossível: "Agora a zona pode inundar, mas não ao ponto de pôr em risco a segurança das pessoas e dos seus bens", diz o arquitecto, esclarecendo que o parque foi projectado de forma a retardar a entrada das águas que chegam do Cacém e de Agualva. Resta acrescentar que os custos de manutenção dos 40 mil metros quadrados de espaço verde são reduzidos, porque 60% da área dispensa rega ou fertilizantes: "A maior parte do parque é constituído por zonas herbáceas que não requerem cuidados permanentes." in http://dn.sapo.pt/2008/04/21/sociedade/ribeira_jardas_devolvida_moradores_c.html