segunda-feira, 26 de maio de 2008

Fauna e Flora da Ribeira das Jardas - Parte 1

Durante as minhas prospecções na ribeira, tenho me deparado com uma variedade de seres que atestam bem a riqueza desta ribeira.
Ficam então alguns daqueles que consegui identificar:

Pato real (Anas platyrhynchos)
O Pato-real mede cerca de 55 cm de comprimento, o que o torna numa ave facilmente identificável em voo, com o seu corpo robusto e asas ligeiramente arredondadas. Plumagem: O macho tem a cabeça verde, colar branco no pescoço, peito cor de ferrugem e o resto do corpo acinzentado. A fêmea tem tom uniforme acastanhado. Os juvenis assemelham-se às fêmeas adultas. O voo do pato-real é relativamente rápido, sendo muito característico desta espécie o assobio das asas durante o voo. A parte superior do corpo é bastante colorida, sobressaindo os tons azul esverdeados da cabeça no macho. A parte inferior é de um modo geral clara, excepto o peito que é castanho avermelhado. A cauda é curta e termina com 2 ou 3 penas enroladas para cima. O bico é amarelo, de comprimento médio e achatado.

Habitat
: Encontra-se em todos os tipos de zonas húmidas, particularmente nos estuários. Quanto à nidificação, os habitats de localização do ninho podem ser variadíssimos.

MOVIMENTOS/MIGRAÇÕES: As populações da bacia mediterrânica são fundamentalmente residentes, com dispersões frequentes após a época de nidificação. Esta ocorre cedo, a partir de Fevereiro, e as ninhadas ficam a cargo das fêmeas. Os machos dispersam-se e iniciam a muda. No Verão e início do Outono verificam-se grandes concentrações destas aves, começando no final do Outono e Inverno o acasalamento e dispersão novamente pelas áreas de nidificação.

Alimentação: É uma espécie omnívora e oportunista, com uma vasta variedade na sua dieta e tipo de alimentação. A diversidade do comportamento alimentar permite o uso diverso de habitats variados, o que também se reflecte na lista extensa de alimentos já registados para a espécie. Entre outros, contam-se plantas aquáticas, cereais, leguminosas, insectos, moluscos, peixes, etc.

Reprodução/POSTURAS: São compostas por 9 a 13 ovos. O ninho consiste numa ligeira depressão com ervas, folhas e por vezes alguns ramos, sendo construído pela fêmea. INCUBAÇÃO: Dura cerca de 27 a 28 dias. CRIAS: São nidífugas e alimentam-se sozinhas, demorando 50 a 60 dias. Estudos realizados no Norte da Europa demonstraram taxas de eclosão de 52,7 por cento a 83,1 por cento e uma média de 7 crias emplumadas por ninhada.
Minhas observações:
Este trata-se talvez do animal que mais simpatia colhe por parte dos habitantes de Agualva-Cacém. É frequente ver as fêmeas a alimentarem-se na ribeira rodeadas de patinhos. As pessoas que passeiam pelo parque frequentemente levam pão para darem aos patos.
Não é raro o dia que se vêem as pontes que atravessam a ribeira, cheias de pessoas a observarem as familias de patos.
É de notar ainda que as primeiras ninhadas deste ano já nasceram e os pequenos patinhos estão já do tamanho dos progenitores. É incrivel o número de fêmeas com ninhadas que foi possivel obesrvar este ano!
Galinha d´agua (Gallinula chloropus)
Uma ave com cerca de trinta e três centímetros que habita pantanos,charcos,lagos e rios com margens ricas em vegetação.É uma ave tímida e muito activa,que emite um grito de aviso e mergulha quando se sente ameaçada.Alimenta-se de algas,bagas e frutos,ocasionalmente de insectos e vermes.Constrói o ninho com matérias vegetais em canaviais ou na vegetação sobre a agua onde faz uma postura que vai de cinco a onze ovos que são incubados por ambos os membros do casal.Os juvenis nascem decorridos cerca de vinte dias e começam a nadar nas primeiras horas de vida.

Minhas observações:
Antes das obras do Polis, era muito frequente ver estes animais a deambularem na vegetação que crescia no leito da ribeira, junto à antiga ponte. Hoje em dia é raro vê-las...

Lapas de água-doce (Ancylus fluviatilis)
Genero de pequena lapa de água doce. Tratam-se de gastrópodes pulmonados da familia Ancylidae. Encontra-se frequentemente a pastar algas em cima de rochas ou por baixo destas.

Minhas observações:
Encontrei esta espécie nos troços mais a montante do rio. É provável que as recentes obras de regularização da ribeira tenham eliminado este seres das zonas próximas do cacém de baixo, devido ao constante movimento de máquinas pesadas no leito da ribeira.


Rã verde (Rana perezi)
Rã-verde ou Rã-comum, Rana perezi, é o anfíbio mais abundante e fácil de observar em Portugal. Geralmente não ultrapassa os 7 cm de comprimento. Possui olhos proeminentes, próximos entre si, com pupila horizontal. Os tímpanos, situados atrás dos olhos, são bem visíveis, o que a distingue da Rã-ibérica (R. ibérica). Os membros posteriores são compridos e com membrana interdigital bem desenvolvida. Distingue-se facilmente da Rã-de-focinho-ponteagudo (Discoglossos galganoi) porque os membros posteriores, quando esticados na direcção do focinho o ultrapassam. A coloração dorsal é esverdeada ou acastanhada (por vezes surgem exemplares muito escuros) com manchas escuras de disposição irregular. Tem duas pregas glandulares muito marcadas dorso-lateralmente e com frequência possui uma linha vertebral verde clara. Ventralmente é esbranquiçada com manchas cinzentas de tamanho variável.
ALIMENTAÇÃO: A sua dieta inclui diversos tipos de invertebrados tais como insectos, aracnídeos, moluscos e miriápodes. Também podem comer vertebrados como pequenos peixes e outros anfíbios. Conhecem-se alguns casos de canibalismo. Os girinos alimentam-se de algas e detritos.
REPRODUÇÃO: Em Portugal a época de reprodução ocorre, em geral, entre Março e Julho. Os machos atraem as fêmeas através do coachar (que se ouve a grandes distâncias) e abraçam-nas pelas costas (amplexo axilar). A fêmea deposita entre 800 e 10000 ovos em cachos soltos ou prende-os à vegetação. As larvas eclodem poucos dias após a postura e o seu desenvolvimento é lento. A maior parte das metamorfoses dão-se em Julho ou Agosto, mas são conhecidos casos em que os indivíduos passam o Inverno no estado larvar. A maturidade sexual é atingida aos 4 anos e podem atingir os 10 anos de vida.
Minhas observações:
Quem passear durante estes dias ao longo das margens da ribeira, irá certamente ouvir o coachar destes animais. Chegou a época de acasalamento!

Ratazana dos esgotos ou ratazana castanha (Rattus norvegicus)
Espécie de grandes dimensões e robustez, o seu peso varia entre 200 e 500 g . A distância entre a extremidade do focinho e a base da cauda varia entre 21 e 27 cm e a cauda tem uma dimensão inferior. As orelhas são pequenas, não atingem os olhos quando rebatidas, o focinho é achatado. Os olhos são pequenos. Pelagem da região dorsal escura, castanha-acinzentada por vezes avermelhada na parte posterior, regiões laterais mais claras, região ventral e membros de cor branca acinzentada. Cauda bicolor, mais escura na parte superior. Pelagem áspera.

Alimentação: Espécie omnívora, com uma dieta muito variada, devido à sua grande proximidade ao homem, mas tendo preferência por alimentos com teores elevados de proteína e hidratos de carbono. Comem grandes quantidades de cada vez, num total de 25 a 30 g por dia. Não subsistem sem água.
Hábitos:
Apresenta uma antropofilia marcada, colonizando preferencialmente lixeiras, esgotos, jardins, muros, ribeiras, canais de rega e drenagem, instalações pecuárias, bermas de estradas, instalações industriais e marachas costeiras. São excelentes nadadores, podem manter-se debaixo de água cerca de 30 segundos (!) e podem entrar nos edifícios através das canalizações. No exterior os ninhos são normalmente subterrâneos e cavam galerias. Dentro dos edifícios os ninhos são construídos com materiais moles localizando-se preferencialmente nos pisos inferiores, por baixo ou atrás de mobiliário ou equipamentos fixos, entre pilhas de produtos armazenados. Roem preferencialmente madeira e cabos eléctricos. A sua actividade é essencialmente nocturna com picos ao anoitecer e ao amanhecer. Quando as populações presentes são grandes, são perturbadas ou têm fome, é frequente a actividade diurna. O raio de acção é de cerca de 30 a 50 m. Passam através de pequenas aberturas (cerca de 1.3 cm).
Minhas observações:
Não é raro observar estes seres nas margens da ribeira, ao longo do parque. Mostram-se sem medo das pessoas e passeiam-se ao longo das margens mesmo durante o dia. Não é raro vê-las a nadarem de uma margem para outra. Penso que se poderem apanhar uma pata distraida, sem dificuldades irão atacar os patinhos mais pequenos ou alguma rã menos atenta.


Algas filamentosas (Spirogyra, Anabaena, Oscillatoria, Lyngbya, Pithophora spp)
Algas filamentosas verdes, caracteristicas de águas com excessos de nutrientes. Tanto ocorrem em águas estagnadas como em águas correntes.
Minhas observações:
Quem for dar uma volta agora ao longo da ribeira, vai reparar que o leito da ribeira encontra-se coberto por estas algas. Penso que se trata de uma consequência dos esgotos que ainda são despejados para a ribeira e são uma prova da eutrofização deste curso de água.
Algumas notas:
Até agora não consegui detectar nenhuma planta verdadeiramente aquática.
Também não consegui detectar nenhuma planta flutuante.
Felizmente não detectei Gambusias na Ribeira (Gambusia holbrooki) (pequenos peixes que foram introduzidos em Portugal para controlo de mosquitos, mas que se tornaram uma verdadeira praga), apesar de existirem fontes e tanques perto da Ribeira que possuem colónias destes peixes.
Infelizmente já detectei a presença da temivel praga que são os lagostins vermelhos, (Procambarus clarkii) ou também designados lagostins do Louisiana.
Detectei uma espécie de peixes e várias espécies de plantas e árvores marginais.
Fica a promessa de um próximo tópico com a identificação de mais espécies.

2 comentários:

Anónimo disse...

Ainda se vêm as galinhas mesmo depois do Polis, mas não é muito frequente.

Esta semana vi uma garça mesmo atrás do edifício dos telefones. Antes das obras era mais comum ver garças na ribeira

Anónimo disse...

Na Ribeira das Jardas existe uma espécie de peixe, o Iberochondrostoma lusitanicum, um endemismo português (só existe em Portugal). O seu estatuto de conservação é Criticamente em Perigo. Mais informação no Livro Vermelho:

http://portal.icnb.pt/NR/rdonlyres/CB478D55-FC7C-4EE2-AEFC-84B423307566/3109/LVVP_Peixes_Chondrostomalusitanicum.pdf